Quando descobri que faria uma viagem à Belém do Pará, só tinha uma certeza em mente: queria conhecer o famoso e tão prestigiado Mercado-Ver-O-Peso, considerado a maior feira livre da América Latina. O Ver-o-Peso é um dos mercados mais antigos do país, um patrimônio do povo às margens rio Guamá, na baía de Guajará tombado pelo Iphan em 2012. Em 1625 era entreposto fiscal, local onde se media o peso das mercadorias para que fosse possível cobrar os impostos devidos à Coroa Portuguesa. Vem daí a origem do nome “ver o peso” (antes, Casa do Haver-o-Peso).
Um tour guiado no Mercado-Ver-o-Peso de Belém do Pará
Onde ficar em Belém do Pará, nossa dica de hotel
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O que é o Mercado Ver-o-Peso de Belém do Pará
Situado em uma importante zona portuária, entre as Docas e o Forte do Presépio na Cidade Velha, é mais do que um mercado. O Ver-o-Peso é um complexo imenso com prédios tombados, áreas específicas (como o Mercado de Carnes e o de Peixes), além de inúmeras barracas distribuídas por setores: artesanato, frutas, farinhas, ervas, animais, polpas, entre outros. No total, são 16 setores e um mundo à parte e pitoresco.
Sabendo do seu tamanho colossal, busquei uma ajuda para que a minha visita fosse mais rica em detalhes. E foi assim que cheguei à Amanda, uma guia turística credenciada que fez um tour de quatro horas comigo e com o meu marido pelo centro histórico de Belém com ênfase no Mercado-Ver-O-Peso. Sua recomendação foi de que eu levasse a minha câmera fotográfica mas ficasse sempre alerta pois o mercado, assim como em todo o Brasil, tem os seus perigos e assaltos. Sabendo disso – e tomando o devido cuidado -foi um passeio tranquilo.
Nossa guia turística deu um sabor todo especial ao tour apontado o caminho dessa cozinha de origem, suas barracas favoritas, além de ingredientes com nomes indígenas que representam as raízes do Brasil. Nos apresentou alguns pontos consagrados da feira, personalidades populares e souvernirs que não poderiam faltar na nossa mala. Através do trajeto traçado por ela foi mais fácil compreender a organização do Mercado-Ver-o-Peso.
Tudo no Ver-o-Peso é intenso
Entre a multidão, vimos turistas, comerciantes, trabalhadores e Chefs em busca de suas especiarias. Tudo no Ver-o-Peso é intenso: o caos, o barulho, os cheiros, os sabores, as cores e o visual repleto de contrates. Para se aprofundar nessa experiência é preciso se desprender de conceitos pré-estabelecidos sobre higiene de alimentos e, acima de tudo, conversar com esse povo humilde e feliz com sua riqueza alimentar proveniente dos rios e da floresta amazônica.
Não cheguei a visitar o Ver-O-Peso durante a madrugada quando é comercializado o ingrediente mais emblemático da feira, o açaí. O fruto chega baldes de palha e atrai não só os feirantes como também os turistas em busca de uma experiência original.
Certamente visitar o mercado é como visitar o berçário da cozinha brasileira, um museu vivo que mexe e aguça os nossos cinco sentidos. É, sem dúvida, a atração principal de Belém do Pará.
Abaixo, eis os pontos altos desse tour.
O QUE VER E PROVAR NO MERCADO VER-O-PESO : NOSSO ROTEIRO
1. Os Camelôs do Ver o Peso
O tour com a guia Amanda iniciou em uma área do mercado muito semelhante a do resto do Brasil: o camelódromo, na ponta da feira próxima às Docas.
2. As comidas e barracas de peixe e açaí
Do camelódromo entramos na área de aromas intensos, a das comidas. É a “praça de alimentação” do mercado. Tem de tudo nas várias barraquinhas, porémo carro-chefe é o peixe frito servido com açaí e farinha – um dos pratos símbolos de Belém. Os feirantes já oferecem açúcar aos turistas para misturar no açaí. Mas os locais jamais cometerão esse crime.
O açaí no Pará não é visto como uma sobremesa ou fruta para comer com cereais (como o pessoal do Sul está habituado). É o acompanhamento principal do peixe e servido com farinha de mandioca e de tapioca. Ou seja, é salgado. Uma indicação para provar a iguaria é a Banca do Léo.
3. O mingau – o café da manhã dos trabalhadores
Próximo às tendas de comidas, estão as barracas de mingau de tapioca, milho ou arroz. Nossa guia nos revela que tanto o açaí como o mingau são típicas comidas de resistência dos trabalhadores e, por isso, as barracas estão localizadas próximas às paradas de ônibus da feira, facilitando a rápida refeição do povo logo na primeira hora da manhã. O mingau é servido em copos de plástico (em versão para viagem) ou em tigelas feitas com a casca do coco para quem come no local. E ainda: com a opção de incluir leite condensado e canela. Eu experimentei, e adorei. E a dica da guia para o degustar o mingau é a Banca da Socorro.
4. A maniva
Atrás das bancas de açaí, próximo às margens do rio, encontramos as folhas da maniva, outro ingrediente riquíssimo da cozinha amazônica com origem indígena. Trata-se de uma massa moída feita das folhas da mandioca. Com ela se faz, entre outras receitas típicas, o famoso prato da maniçoba, uma espécie de feijoada que não vai um grão de feijão (e o sabor é muito semelhante ao da feijoada tradicional só que mais forte).
Quem quiser compra a maniva cozida precisa confiar plenamente no vendedor, afinal as folhas da mandioca podem envenenar se não forem muito bem cozidas. É preciso ferver durante sete dias sem desligar o fogo para ter a segurança de que não serão prejudiciais à saúde.
5. Artesanato
Quase ao lado das folhas da maniva, nos fundos da feira, estão situadas as barracas de artesanato com itens feitos de casca de coco, fibra de açaí, além de alguns artigos da famosa cerâmicas marajoara e tapajônica.
6. Frutas e a Castanha do Pará
Próximo ao peixe com açaí, iniciam as bancas de frutas e as da famosa castanha do Pará, uma preciosidade da região. Não deixe de levar um saquinho da castanha ao natural, as legítimas, descascadas na hora. Um trabalho extremamente manual. Das frutas exóticas, provei o abricó com gosto e aparência de manga, muito saboroso. E aviso: não custa nada dar um bom troco para quem oferece aos visitantes provinhas da sua barraca. É o mínimo que se pode oferecer para tanta simpatia de um povo que encanta pela simplicidade e alegria. Vai por mim.
7. Cachaça de Jambu e o Tucupi
É difícil lembrar a ordem exata das barracas pelas quais caminhamos, mas seguindo o trajeto, em uma das esquinas da feira você vai encontrar as cachaça típicas de jambu (aquela que faz os lábios ficarem dormentes). A erva de jambu, também é vendida no mercado, uma iguaria que está presente em várias receitas do Pará como o arroz de jambu e o caldo de tucupi com jambu e camarões secos. E por falar em tucupi, eis outro ingrediente de origem indígena presente nessa rica gastronomia do norte do Brasil e vizinho (em localização da feira) da cachaça de jambu.
Vendido em garrafas pet, o tucupi é uma espécie de molho feito do sumo amarelo extraído da raiz da mandioca brava quando descascada, ralada e espremida. Inicialmente venenoso, o líquido é cozido e fermentado de 3 a 5 dias (para perder o veneno) e utilizado como base em vários pratos famosos como o Pato no Tucupi e o Tacacá – dois ícones grandes da comida paraense.
8. As Farinhas
A farinha de mandioca encanta pela variedade e cores expostas em sacas nas barracas. Em tons amarelados, fina ou grossa, é um item que não pode faltar na sua mala já que é uma espécie de farinha rara no lado sul do Brasil. Seu sabor é incrível e uma das farinhas mais procuradas é a de Bragança.
Outra farinha típica de Belém é a de tapioca. O visual e a textura são semelhantes ao de flocos de isopor. Essa farinha é muito utilizada para colocar pura em cima do açaí (no prato que acompanha o peixe frito) e também no café com leite.
9. O Camarão, o Pirarucu e o Piracui Secos
A área do camarão seco é de um colorido impressionante. Nossa guia nos apresentou o famoso aviú, uma espécie de microcamarão de 8 milímetros, abundante na superfície dos rios amazônicos. O ingrediente é muito apreciado pelos Chefs locais. Thiago Castanho, do restaurante Remanso no Bosque, tem um prato de camarão empanado no aviú. No lugar da farinha de rosca, o Chef utiliza o aviú para empanar o próprio camarão e o resultado é delicioso. No livro “Cozinha de Origem” (ed. Publifolha), a receita de Thiago está disponível na página 16.
Próximo ao camarão seco é vendido o Pirarucu seco, o “bacalhau amazônico”. O peixe é um dos maiores de água doce do planeta, nativo da Amazônia. Outro ingredientes exótico dessa parte da feira é o Piracui d’Açari, espécie de farinha de peixe que pode ser temperada e utilizada em receitas de bolinhos.
10. Um refresco: os Sucos no setor de Polpas
Açaí, graviola, murici… esse é o setor para provar os sucos geladinhos (faz muito calor em Belém!) com nomes de frutas exóticas, sabores típicos do norte do Brasil. Parada obrigatória na feira, bem na ponta, às margens do rio, quase ao lado das aves vendidas vivas. Há poucos bancos para sentar e apreciar o visual poluído e repleto de contrastes que mexem com a gente. Nenhum suco é feito na hora (assim como as comidas que chegam prontas ou semiprontas na feira), pois para melhor controle higiênico-sanitário os alimentos não podem ser preparados no local.
Os sucos chegam em garrafões e ficam em geladeiras. Vai por mim, nem pense duas vezes, peça logo dois sucos na barraca da Lu: o de murici e o cupuaçu.
11. As Carnes do Mercado Francisco Bolonha
Atravessamos pela primeira vez a rua e visitamos um dos prédios famosos por sua arquitetura, um dos cartões-postais do Ver-o-Peso: o Mercado Francisco Bolonha ou Mercado de Carnes. Construído em 1867 e remodelado em 1908 com a assinatura de Francisco Bolonha – engenheiro que trocou as vigas de madeira pela bela estrutura de ferro, impressionante e presente até hoje. Em 2010 0 prédio foi novamente restaurado para garantir melhores condições de higiene. A guia nos revela que as carnes, desde de a restauração, deveriam ficar dentro dos compartimentos refrigerados nas vitrines das barracas.
Contudo, o costume local de expor a carne em ganchos ao ar livre é tão forte que muitos comerciantes nativos fogem à regra. Ou seja, o costume do passado é mais forte do que qualquer condição de higiene. Há uma escada em caracol logo na entrada do Mercado Bolonha. Não deixe de subi-la para contemplar a vista panorâmica. Afora as bancas de carnes, no local também há restaurantes que servem café da manhã e almoço.
12. O Mercado de Peixes
O grande prédio azul, um dos ícones da Cidade Velha, abriga o pavilhão do Mercado de Peixes, quase em frente e do lado do oposto da rua do Mercado de Carnes. É, sem dúvida, um dos setores mais impressionantes de toda a feira. A fartura de espécies de peixes frescos encanta os turistas e comensais. Peixes de rios amazônicos que surpreendem também pelo sabor e pela carne em abundância. Filhote (que na verdade não tem nada de filhote, é um peixe grande!), pargo, pescada amarela, dourada, tambaqui, surubi, pirarucu são alguns dos pescados famosos da feira e presentes nos cardápios dos restaurantes renomados da cidade.
13. O Setor de Ervas
Por fim, não dá para deixar de citar um setor da feira bem original: o das ervas e perfumes feitos a partir de plantas nativas. Local que tem uma “cura” para todo o tipo de problema, inclusive a falta de homem. Nesse caso, a essência indicada para as encalhadas é o “Atrativo do Amor” (segundo o slogan do comerciante: “usou, desencalhou!”). Para se aprofundar no assunto, procure a Banca do João, uma simpatia de vendedor.
Toda a série de dicas do Belém do Pará no Café Viagem
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SAIBA MAIS
MERCADO-VER-O-PESO
Cidade Velha – às margens do rio Guamá – entre as Docas e o Forte do Presépio.
BELÉM- PARÁ | Brasil
Quando visitar: bem cedo pela manhã durante a semana ou no sábado. Durante a madrugada alguns turistas também gostam de visitar a feira do açaí.
Tempo: no mínimo 2 horas. Vá com fome e curiosidade
CONTATO DA AMANDA, GUIA TURÍSTICA
Amanda [email protected]
Tel: (91) 98315 0750 (tim e wpp) / (91) 3254-5906.
Consulte valores atualizados. Pagamos R$ 150 para o casal em outubro de 2015, passeio de 4 horas que incluia o transporte de carro ( a guia nos buscou e nos levou de volta ao hotel onde estávamos hospedamos, o Radisson!).
*A viagem a Belém foi um convite da Atlantica Hotels ao blog Café Viagem para viver a Experiência Radisson em Belém do Pará. O tour citado neste post foi uma iniciativa pessoal, paga do nosso bolso, para descobrir a verdadeira essência de Belém. Recomendo fortemente!
Oi, sou a Alexandra Aranovich
Autora do blog Café Viagem, criadora de conteúdo e sommelier. Degusto a vida entre vinhos, viagens e café da manhã. Moro em Porto Alegre, mas vivo com o coração no mundo. Como posso te ajudar a degustar teu sonho?
Oi, Alê. Tudo bem? :)
Seu post foi selecionado para o #linkódromo, do Viaje na Viagem.
Dá uma olhada em http://www.viajenaviagem.com
Até mais,
Bóia – Natalie
Valeu, Natalie!! Maior carinho por esse lugar, esse post e tudo que provei em Belém.
Beijoos
Ale
Obrigada pelas dicas, em breve estarei visitando. Abraços
Olá,
Parabéns pelo seu post, anotei várias dicas. Estou indo para Belém na semana que vem para as festas do Círio de Nazaré. Será que você poderia me passar o contato da guia turística Amanda que você cita no post?
Desde já grata,
Alessandra
Oi Alessandra
Tudo bem? O contato dela está no final do post, mas coloquei aqui pra ti também.
Grande abraço e boa viagem
Alexandra
——- CONTATO DA AMANDA, GUIA TURÍSTICA
Amanda [email protected]
TEL: (91) 98315 0750 (TIM E WPP) / (91) 3254-5906.
Quero conhecer esse lindo lugar
É um lugar único no Brasil. E mais único ainda para quem ama gastronomia ou simplesmente comer e descobrir os sabores do Brasil
Abs
Alexandra
Bom dia!
Parabéns pelas excelentes dicas.Eu gostaria de saber sobre o estacionamento do ver-o-peso, tipo horário de funcionamento, valor e etc…
Abraço e fica com Deus
Muito obrigada! Eu adorei conhecer o Mercado Ver o Peso de Belém
abs
Alexandra do Café Viagem
Obrigada pelas dicas, em breve estarei visitando. Abraços
o mercado ver o peso é um local maravilhoso , se não tivesse tanta bandidadgens seria o melhor lugar para fazer aquele passeio dos sonhos, estive ai em 2020 em plena pandemia e falando a verdade foi so pesadelo, nunca mais volto ai
Amei a reportagem
Obrigada, Wilma! A gastronomia do Pará é muito rica
abs
Alexandra do Café Viagem
Vi o mercado no programa da eliana gostaria do Whatsapp do mercado.
OI, não consigo contato com a guia Amanda e gostaria muito de fazer o tour no Ver-o-Peso durante minha viagem a Belem. Vcs tem alguma atualização dos contatos dela? Obrigada