Dica em Maastricht, Holanda: Livraria na Igreja, Restaurante na Farmácia.
Texto da Andrea Nocchi. Ela viaja com o marido, com as filhas, sozinha, a trabalho ou com as amigas. Viaja sempre. Admiro muito. De tanto eu insistir, ela, enfim, relatou uma de suas experiências aqui no Café Viagem. Dicas inusitadas e encantadoras. Obrigada, Andrea!
Passei uns dias, em fevereiro, em Liège – Bélgica, visitando meu sobrinho que está fazendo doutorado em Letras e mora lá. Por indicação dele, peguei o trem na linda e moderna estação da cidade e, 25 minutos depois, estava na Holanda, na encantadora MAASTRICHT. Nesta cidade, cortada pelo rio Mosa, “Maas” em neerlandês, e encravada entre a Alemanha e a Bélgica, foi assinado o Tratado sobre a União Européia (TUE), em 1992, que marcou o processo de unificação da Europa. Como na maioria das cidades da Europa, Maastricht tem inúmeras Igrejas, mas a diferença é que, seguindo uma tendência crescente na Holanda, os templos têm sido usados para diversas outras finalidades. Atualmente, a revitalização e reutilização desses espaços ociosos é uma tendência, ainda mais num País onde aproximadamente 40% da população é considerada atéia.
Igrejas são transformadas em cafés, pistas de dança, recreação para crianças, estacionamento de bicicletas…e em livrarias. É o caso da filial da LIVRARIA SELEXYZ – www.selexyz.nl, instalada numa antiga Igreja Dominicana (Dominikanerkerk) que está no centro da cidade e já foi apontada pelo jornal inglês The Guardian como a mais linda livraria do mundo.
A combinação é mesmo surpreendente. Entre a imponência e abóbadas da igreja, uma estrutura de metal fixa as estantes de livros, revistas e uma pequena papelaria. No espaço onde, antes, havia um altar, hoje está um charmoso café da famosa rede COFFE LOVERS – www.coffeelovers.nl/ , que serve vários tipos de delícias, entre elas inúmeras variedades de cafés, doces, tortas e sanduíches.
Na mesa entral do café, que é partilhada por todos, o formato é de uma cruz.
Vasculhei as prateleiras e senti falta de livros em inglês ou francês já que a maioria dos títulos estão apenas na incompreensível língua holandesa. A papelaria tinha poucas opções e, portanto, não comprei nenhuma lembrança daquele templo de livros.Tomei um café, delicioso. Senti-me em paz. Não sei se é a livraria mais linda do mundo – como apontou o The Guardian -, mas é, sem dúvida, uma experiência divina.
De volta à Liége, outra experiência inusitada. Sem qualquer referência e louca de fome, resolvi experimentar um restaurante chamado POTATO GRILL. O que me atraiu foi a referência às batatas. Era o meu terceiro jantar na Bélgica e eu ainda não havia comido batatas fritas no País que as inventou. Na fachada, meio brega, um luminoso exibia fotos dos pratos e pude identificar o boulets à La liegeoise, prato típico que o Gabriel – meu sobrinho – tinha me comentado. Resolvi experimentar.
Só quando sentei na pequena mesa do restaurante, quase vazio, é que me dei conta de que estava dentro de uma farmácia antiga.
Na parede, observei a foto do local quando as prateleiras ainda tinham remédios de verdade. Fiz meu pedido para um simpático atendente que me ofereceu uma sopinha de entrada como cortesia enquanto eu esperava o meu boulet com batatas fritas. Ele ficou contente quando pedi o prato típico e ouvi, atentamente, as informações sobre sua receita. Carne de porco moída, molho agridoce com cebolas acompanhado de maionese e as famosas batatas fritas à moda de Liège (cortadas na casa e na faca). Demorou um pouco, mas valeu a espera. O prato era mesmo delicioso. O vinho, que não tenho ideia de qual era, era ótimo e tomei meia garrafa para espanto do atencioso maitre/garçon.
Finalizada a janta, entre estantes, gavetas e balcões que antigamente abrigavam remédios, pedi sugestão de sobremesa. Como eu avisei que já estava bem satisfeita, a dica foi crème brûlle. Embora eu já tivesse comido vários durante a viagem, aceitei. Felizmente. Foi o melhor de toda a viagem, perdendo até para o trio de crème brûlle de pistache, caramelo e baunilha do restaurante Bússola em Paris e para o de doce de leite do Au 35 da Rue Jacob. Leve e delicioso. Para completar, café e a conta: 39 euros. Um dia inusitado, entre livros na Igreja e jantar na Farmácia, terminou com uma caminhada cruzando as passarelas de Liège até o meu hotel, sentindo um vento frio batendo no rosto.
SAIBA MAIS
SELEXYZ Dominicanerkerkstraat 1 – 6211 CZ Maastricht, Holanda
043 3210825 – http://www.selexyz.nl/
POTATO GRILL – Rue Souverain-Pont 4 , 4000 Liège/ Bélgica
Oi, sou a Alexandra Aranovich
Autora do blog Café Viagem, criadora de conteúdo e sommelier. Degusto a vida entre vinhos, viagens e café da manhã. Moro em Porto Alegre, mas vivo com o coração no mundo. Como posso te ajudar a degustar teu sonho?
Adorei a matéria, muito bem explicada! Estou planejando uma viagem para Holanda em breve e com certeza irei anotar suas dicas